- Mãe, sabia que “inventar” é um vento que vem de dentro da
gente?
- Não sabia disso, Victor. Aprendeu na escola?
- Não mesmo! Na escola eu aprendi que o vento é o ar em
movimento, só isso.
- E da onde você tirou essa história então?
- Mãe, é só pensar. Quando a gente tá com o ar parado dentro
da gente, tudo fica no mesmo lugar… Junta um monte de folha seca, dessas que já
caíram da árvore faz tempo e nunca mais vão fazer sombra, só servem mesmo pra
gente pisar e gostar do barulho. Sem contar a poeira que junta em lugar onde a gente
não mexe há muito tempo… Pode reparar, aparece sempre aquele calor que abafa a
gente e traz uma preguicinha. Tudo fica no mesmo lugar. Quando o ar tá parado é
porque a gente se acomodou com essas coisas que a gente nem precisa, e elas
acabam nos dizendo como agir, aliás, nos dizem para não agir, né. E a gente
obedece sem nem saber o motivo. Isso é ar parado, mãe. Sem perceber, a gente
para nosso ar.
- Victor, você…
- Para de franzir a testa, mãe. Deixa eu continuar. Aí,
quando a gente inventa, muda tudo em algum lugar dentro da gente, e às vezes em
todos os lugares. Vem esse vento que varre tudo quanto é folha seca pra bem
longe e a gente volta a ver a grama verde que sempre esteve debaixo delas. A
poeira é muito sensível à qualquer brisa, mãe, você precisa ver! O invento
espana tudo que tiver empoeirado dentro da gente pro nosso verniz voltar a brilhar.
E tem coisa melhor do que um invento quando nosso interior tá abafado? É o que
a gente precisa pra ficar fresco por dentro. O vento de dentro chega
desarrumando tudo que nosso comodismo nos convenceu de que estava arrumado. É
isso. Um invento. Esse vento, mãe, faz as coisas voarem por alguns instantes. O
invento traz asas. Bonito isso, né mãe? Vou até anotar, “o vento traz asas para
dentro de nós”.
- Victor, você é uma criança, não devia ter “folhas secas”
dentro de você, meu filho. E nem deveria se preocupar com isso.
- Mãe, pra isso não tem idade. Basta passar uma estação pra
que as folhas caiam, isso é natural. E se eu não preocupar com isso agora, as
folhas secas vão acumulando e daqui a pouco um invento não vai dar conta de
limpar meu jardim. Vou precisar, sei lá, de um furacão. Mas, furacão acaba
sendo muito extremo, sabe mãe, ele leva até o que não era pra levar. Arrancaria
tudo que eu já plantei e também…
- Tá bom Victor, chega, já entendi. Sabe o que anda
precisando de um “invento” desse?
- Você? O povo? O papai não é, ele carrega um vendaval
dentro dele.
- Não, nem eu e nem o povo. Seu quarto! Já viu como está?
- Mãe, não usa a conversa contra mim. Meu invento é sempre à
meu favor.
- Victor, inventar não é nada disso. Quem te ensinou isso,
meu filho?
- Eu inventei, mãe. Você não entende, né?
Esse Victor é um danadinho...
ResponderExcluirÓtimo texto!
Déia....Incrível este texto!
ResponderExcluirSensível, doce, delicado, inteligente.....amei!
Lembrei do meu Vitor(meu filho lindo!) qdo era menor. Se bem q ele continua dizendo coisas inacreditáveis..rsrsss!
Bjss
Carla Sanchez
Não sei se amo o Victor, se amo o tio Carlos, se amo a Deia! Mas amo muito isso tudo junto, ventando e inventando vida, idéia, alegria, tudo pra dentro de mim!
ResponderExcluirGrata surpresa, Deia! Fico feliz por conhecer o seu espaço. Valeu a marcação! Abraços, Ricardo.
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