Especula-se que esta seja uma imagem de Victor, vinda do futuro |
- Mãe, foder é verbo?
- Que isso, Victor?!?!
- Isso o que? Foder? Acho que é um verbo, mãe. Dá pra
conjugar, oh: Eu fo...
- Victor, calado! Onde você escutou isso???
- Ué, mãe, na escola! Lá a professora explica que todo verbo
pode ser conjugado.
(Tio Ricardo) - Ah, só pode ser verbo, eu mesmo já fodi num
conjugado…
(Maria Lúcia) - Ricardo, cala a boca e sai daqui agora!!!
- Tio Ricardo, você quis dizer “numa conjugação”, né?
(Tio Ricardo) - É isso aí, bastante ação mesmo!
- Aí tio, eu acho que seria “Eu fodi; Tu fodeste”…
(Tio Ricardo) - Não. “Tu fodeu”.
- Quê? Quem é Tufo? O que ele te deu?
(Tio Ricardo) - Que Tufo, mané?
- Você falou que o Tufo deu.
(Tio Ricardo) - Ê ê! Tá me estranhando rapaz? Quem me deu
foi a Sabrina, uma morena top de linha!
- Ela te deu o que? Aula de português?
(Tio Ricardo) - Aula… É, pode se dizer que foi uma aula, mas
não de português…
- Ah, agora entendi! Tufo deu…
(Tio Ricardo) - Ô, a noite inteira!
- … o português né?
(Tio Ricardo) - Que fodi português o que muleque! Eu gosto é
de mulher, e brasileira!
(Maria Lúcia) - CHEGA! Ricardo, você tem três segundos pra
desaparecer da minha vista! E Victor, eu não quero saber onde você escutou que
um verbo pode ser conjugado, eu quero saber onde você aprendeu essa palavra!
- Ah, mãe, já não lembro… Tem sempre alguém falando disso…
- Victor, essa é uma palavra muito feia. Você não pode sair
por aí repetindo tudo que você escuta, filho!
- Ô mãe, mas foi assim que eu aprendi a falar! Por que agora
a regra muda?
- Porque quem faz a regra é quem te carrega nove meses na
barriga. Já ouviu dizer que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”?
- Já, isso é um ditado popular, e você só está falando isso
porque ouviu algumas vezes e está repetindo. Aliás, estamos a gerações fazendo
isso com os ditados. Isso é contra a regra!
- Acontece que eu decido quem segue as minhas regras!
- Você cria regras e não as segue, mãe? Que credibilidade
você espera ter?
- Tá vendo aquele chinelo atrás da porta? Sabe o nome dele?
Credibilidade.
- Mas, mãe. Isso eu não entendo. Eu te fiz uma simples
pergunta e você, além de não ter me respondido ainda, já criou uma regra que me
proíbe uma prática, mas se colocou em posição de exceção para não ter de seguir
a sua própria lei. Isso fere o nosso diálogo, e se não há diálogo, não há
também possibilidade de resolução pacífica do problema.
- Você quer apanhar né?
- Não antes de te explicar que isso é abusar do seu poder de
mãe, já que o fato de você ter me carregado na barriga por nove meses não
justifica a ideia de que eu devo te obedecer sem questionar durante a vida
inteira, por mais que você use o chinelo como arma de repressão. Eu só te fiz
uma pergunta, eu tenho esse direito! Dá pra responder?
(Tio Carlos) - É melhor responder, Maria Lúcia, antes que
ele convoque uma Marcha da Liberdade de Conjugação! E se ele não convocar, eu
convoco!
- Gostei do nome, tio Carlos! Mas, acho que não poderia
fazer isso. Hoje em dia eu escuto falar de “marcha” em tudo que é canto, e eu
não posso sair repetindo tudo que eu ouvir, é contra a nova regra da dona Maria
Lúcia.
(Tio Carlos) - E pensar que há um tempo atrás ela gostava
quando a chamávamos de Maria Joana… Ah, Marias,
mil faces numa só vida/E as plantadas estão proibídas /Apertadas são todas
queridas/E de repente essa aí engravida/E suas raizes ficam esquecidas…
(Maria Lúcia) - Pelo amor de Deus! Não chega sequer uma
pessoa para me ajudar, só pra me foder ainda mais!
- Obrigada, mãe. Gostei da sua criatividade em me responder
usando o exemplo de uma frase contendo a palavra, assim eu pude perceber que de
fato se trata de um verbo. E, tio Carlos, sua poesia é muito bonita, não pense
que eu não entendi.
(Maria Lúcia) - O que??? Você entendeu o que???
- Ai, mãe, já te falei que você precisa ler mais, pra
melhorar sua interpretação de textos. A poesia fala de Marias, ou seja,
mulheres. Vocês têm “mil faces numa só vida” pois trabalham, cuidam da casa, do
marido, dos filhos e ainda de si mesmas. As “plantadas” estão proibídas por se
tratarem de mulheres que se acomodaram à sua existência medíocre, estão
plantadas em casa, antes de casar são dependentes dos pais, e se casam para
dependerem do marido. As “apertadas”, ou seja, abraçadas, são queridas porque
só abraçamos quem queremos bem. E quando uma mulher engravida, ela esquece suas
raízes pra poder acompanhar o filho onde quer que ele vá, porque o filho é um
fruto, e fruto não tem raiz. Depois que o fruto fica maduro, se solta da Maria e
vira presa de um monte de bicho selvagem, então a mãe precisa conseguir se
locomover pra protege-lo. Entendi certo, tio Carlos?
(Tio Carlos) - Em poesia, meu pequeno, não existe
entendimento errado, mas o seu foi o mais bonito que eu já ouvi.
E viva a poesia que se entende com o coração! E viva Victor e seu coração de poeta!
ResponderExcluirFoda é adjetivo?!
ResponderExcluirTô apaixonada pelo Victor.
ResponderExcluirParabéns pelo blog, é lindo!
que buniteza =)
ResponderExcluirFodástico XD
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