segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Namoro




Festa de 9 anos do primo do Victor, o Tadeu, filho do Tio César, que é irmão da mãe de Victor.

(Tio César) – Que bom que chegaram! Podem sentar aí onde quiserem, a festa só vai começar daqui uma hora, estamos terminando de ajeitar as coisas lá fora. E você, heim Victor? Como já está grandão!
- É, né? Dizem que é a fase de crescimento.
– Pois deve ser mesmo! E sabe do que mais? Essa também é a fase dos namoricos! Conta aqui pro tio, quantas namoradas você já tem?
- Tio, sabe o que eu acho estranho?
- Sei, muitas coisas! Hahaha!
- Sim, mas nesse caso específico, eu acho estranho que vocês – adultos – fiquem nos perguntando “quantas namoradas” nós temos, assim no plural, como se isso não fosse uma transgressão à nossa regra moral de monogamia. Porque fazem esse tipo de pergunta, no plural, só para os meninos? As meninas também podem ter vários namorados…
- Victor, a gente fala isso no sentido figurado, porque um cara bonitão como você deve poder até escolher quem quer namorar!
- Mas, tio… Isso eu não entendo. Outro dia escutei o tio Ricardo falando que um amigo dele podia escolher quem quisesse namorar porque era muito rico, e agora você me diz que eu também posso escolher, porque eu sou “bonitão”. Eu fico pensando, o que sobra pra quem não é rico e nem bonitão, na opinião de vocês?
- Sobra se contentar com a primeira maluca que vier, meu filho! Hahaha!
- Eu num acho muita graça nisso, não. E nem acredito nesse atributo de escolha. A gente não escolhe nada nessa vida, tio. Já escolhem qualquer coisa por nós antes mesmo de pensarmos no assunto. Porque escolheríamos namoradas e namorados? Não faz sentido.
- Então você vai ser o tipo do cara que vive sem amor, Victor?
- Sem amor não se vive, tio.
- Então você tem uma namorada pelo menos?
- Não, eu não namoro. Eu amo a Duda, e ela me ama também.
- E você não namora?
- Não namoro. Só amo.
- E porque não namora, já que ama?
- Porque uma coisa não é consequência da outra, tio. O namoro é só uma instituição que vem de fora, não tem nada a ver comigo e com a Duda. Só que tem gente que não entende isso, mas eu entendo essas pessoas. Já estão muito avançadas no convencimento de que o amor requer uma instituição de apoio, acho que quem está convencido disso não tem muito o que fazer, tem mesmo é que se submeter a esse amor produzido. Vão viver algum tipo de felicidade também, creio eu.
- Casamento então, nem pensar né?
- Casamento não é maior do que namoro. São instituições, pra mim têm o mesmo peso, quem se submete, está se submetendo às mesmas dores.
- Então sem namorar nem casar o amor não traz dor? É isso?
- O amor não traz dor, ainda que você se case ou namore. Quem traz dor são os recipientes do amor: nós.
- E como é que você sabe disso tudo?
- Ué, eu amo a Duda.
- Mas você nunca teve outra experiência, como sabe que essa é válida?
- Eu amo a Duda hoje, o que me importa é a experiência de hoje. Amanhã eu não sei o que vai acontecer. Eu acho que só ama quem entende que o importante é amar hoje.

2 comentários:

  1. Conheço muita gente que precisa conversar com o Victor. Na verdade, ele entende muito mais sobre determinadas assuntos do que a maioria de nós. Mas afinal, quem entende a vida não é mesmo?
    Excelente post.
    http://www.facebook.com/groups/amigosblogger/
    http://daquioitentaanos.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

Ei, você entendeu alguma coisa?