terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Grama

Foto da IV Feira Grátis da Gratidão de Volta Redonda, onde o Victor sempre está presente


  
- Victor! Para de pisar na grama, menino! Anda na calçada! Vai estragar o jardim do bairro todo, muleque!
- Mas, tio José, a grama foi feita pra pisar, e não pra enfeitar.
- Pisar o que menino!
- É ué! Antes de ter asfalto, era tudo grama, terra… Ninguém achava que era pra enfeitar, e a gente pisava sem ninguém reclamar também.
- Até parece que você viveu nessa época né? Fala com tanta propriedade…
- Não vivi, mas é fácil de raciocinar que tem alguma coisa errada aí. Antes, quando era tudo natural, ninguém achava que era bonito o suficiente pra tomarmos tanto cuidado, a ponto de nem pisar. Agora que tá cada vez mais raro ver um pedacinho de verde no meio do cinza da cidade, essa gente parece que tá com medinho de que a graminha acabe. Tenha santa paciência! Eu sou contra pisar no asfalto, esse sim fez um mal danado depois que chegou… E meu pé é antigo, tio Zé. Ele pisa na grama.
- Olha como fala comigo, Victor! Seu petulante! Nunca vi, ficar tão afobado por causa de um mato qualquer, eu heim!
- Eu é que te digo isso, tio. Esse é um mato qualquer mesmo, e você é que ficou afobado de pensar que eu tava pisando nele. Eu não, eu fiquei foi assustado de pensar que você nem lembra da sua infância na roça, onde não tinha essas baboseiras de hoje em dia. Daqui a pouco você tá me falando pra não pegar sacolinhas plásticas no super mercado também.
- Ué, é contra isso também?!
- Tio, abre o olho, tio! Nem se todas as sacolinhas de mercado do mundo evaporassem agora, neste momento, o mundo estaria tão salvo quanto pregam essas “ecobags”. Isso é só pra você acreditar que a culpa do planeta tá indo pro buraco é sua, e da sua sacolinha.
- É… Nisso eu não tinha parado pra pensar…
- É, tio. Ninguém tem parado pra pensar. Aliás, ninguém tem parado, né? Parece que o mundo vai acabar em asfalto e sacolinhas plásticas amanhã, e todo mundo tá correndo pra pegar o ônibus, para poder chegar em casa e assistir tudo pela televisão…
- Isso é normal, Victor. As pessoas, quando crescem, não têm mesmo tempo pra ficar paradas pensando nessas mil coisas que você pensa. Não mesmo. Quando crescemos, temos que nos sustentar, temos preocupações com nossos empregos, nossos futuros…
- Tio Zé, normal vem de norma?
- Normal… Norma… Ah, deve ter alguma coisa aí de ligação sim!
- Então, norma quer dizer regra, né…
- Até onde eu sei, é.
- Então, de acordo com a regra, conforme vamos crescendo, deixamos de dedicar tempo para pensar mil coisas, né? Engraçado isso! É normal, portanto, é regra, que pensemos menos quando achamos que crescemos… E isso lá é crescer, tio?!
- Ih, começou você, Victor…
- Calma, tio, só to pensando… Enquanto eu não cresço. 

2 comentários:

Ei, você entendeu alguma coisa?